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» Volume 73

Número 3

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Educação em saúde sobre o Aedes aegypti: relato de experiência

RESUMO

Objetivos:

Relatar a experiência sobre educação em saúde em relação ao Aedes aegypti no Distrito Federal.

Métodos:

Trata-se de um relato de experiência, com abordagem descritiva, sobre a vivência da prática de enfermagem com ações educativas contra o Aedes aegypti em comunidades do Distrito Federal, realizada entre 2015 a 2018. Os sujeitos da pesquisa foram os graduandos de enfermagem, os profissionais dos serviços de saúde e a comunidade.

Resultados:

Realizaram-se 24 atuações educativas contra o Aedes aegypti, adaptadas às necessidades de cada público, utilizando-se uma escultura “gigante” do mosquito, apresentações de teatro, palestras, cartilhas e visitas domiciliares.

Conclusões:

O projeto capacitou docentes, profissionais de saúde, graduandos de enfermagem e comunidade por meio do empoderamento dessa população, com vistas ao combate ao vetor Aedes aegypti.

Descritores:
Aedes aegypti; Enfermagem de Atenção Primária; Inovação; Prevenção Primária de Doença; Educação em Saúde

ABSTRACT

Objectives:

Reporting the experience of health education regarding Aedes aegypti in the Federal District.

Methods:

This is a case report, with descriptive approach, about the experience of nursing practice with education actions against the Aedes aegypti in communities of the Federal District, carried out between 2015 and 2018. Subjects of the research were undergraduate students in nursing, healthcare professionals, and the community.

Results:

There have been 24 educational interventions against Aedes aegypti, adapted to the needs of each population, using a “giant” sculpture of the mosquito, theater performances, lectures, booklets, and home visits.

Conclusions:

The project trained teachers, healthcare professionals, graduate students in nursing, and the community through the empowerment of this population, aiming at combating the Aedes aegypti vector.

Descriptors:
Aedes aegypti; Primary Healthcare Nursing; Innovation; Primary Prevention of the Disease; Health Education

RESUMEN

Objetivos:

Reportar la experiencia en torno a la educación en salud relacionada con el Aedes aegypti en el Distrito Federal (Brasil).

Métodos:

Se trata de un reporte de experiencia, de abordaje descriptivo, sobre la vivencia de la práctica de enfermería con acciones educativas contra el Aedes aegypti en comunidades del Distrito Federal, realizado en el período entre 2015 y 2018. Participaron en este estudio los estudiantes del grado en enfermería, los profesionales de los servicios de salud y la comunidad.

Resultados:

Se realizaron 24 acciones educativas contra el Aedes aegypti, las cuales se adaptaron a las necesidades de cada público y se utilizó una escultura “gigante” del mosquito, presentaciones de teatro, charlas, cartillas y visitas domiciliarias.

Conclusiones:

El proyecto capacitó a los docentes, a los profesionales de salud, a los estudiantes de grado en enfermería y a la comunidad, por medio del empoderamiento para combatir el vector Aedes aegypti.

Descriptores:
Aedes aegypti; Enfermería de Atención Primaria; Innovación; Prevención Primaria de la Enfermedad; Educación en Salud

INTRODUÇÃO

Os dados epidemiológicos da dengue, do chikungunya e da zika na região Centro-Oeste apresentam elevada magnitude e, em 2016, a incidência de dengue encontrada foi de 1.065,9/100 mil habitantes; a de chikungunya, de 6,6/100 mil habitante; e a de zika foi de 189,7/100 mil habitantes. O Distrito Federal, em 2016, registrou 13.645 casos prováveis de dengue, uma incidência de 458,3/100 mil habitantes; já a incidência de febre chikungunya foi de 10,4/100 mil habitantes; e a da doença aguda causada pelo vírus zika, de 8,9/100 mil habitantes. Em 2017, houve uma redução significativa dos casos de dengue no Centro-Oeste, afetando cerca de 160,0/100 mil habitantes. Já no Distrito Federal, a dengue apresentou uma incidência de 36,2/100 mil habitantes, a febre chikungunya, 1,7/100 mil habitantes, e o vírus zika, 0,8/100 mil habitantes(1). Em 2016, notificaram-se 17 óbitos por dengue no Distrito Federal e, em 2017, nenhum óbito. Para a Vigilância Epidemiológica, os dados apontam a gravidade do problema, e, portanto, a necessidade de uma atuação inovadora com a comunidade no sentido de empoderar os indivíduos quanto à conduta preventiva de proliferação do vetor Aedes aegypti, a identificação dos sintomas e o tratamento precoce dos casos suspeitos. Dentre as inovações a ser propostas, deve-se dar maior visibilidade à ampliação da vigilância e do conhecimento da população sobre o problema. Nessa perspectiva, a educação em saúde é uma ferramenta primordial no processo de aprendizado, uma vez que incrementa a autonomia das pessoas para que atuem de forma proativa na resolução de seus problemas(2).

Autores conceituam a educação em saúde como um processo educativo de construção de conhecimento não apenas científico, mas também de valorização do saber popular e do conhecimento prévio do indivíduo, aumentando a autonomia das pessoas para discutir, junto com o profissional de saúde, formas de atender as suas reais necessidades, sendo elas mesmas o principal agente transformador(2-4). Autores também reafirmam a importância da educação na saúde em relação ao processo de aquisição de conhecimento técnico-científico sistematizado para a atuação em saúde, e a realização de práticas de ensino, enfatizando o contexto e a educação permanente para a qualificação do processo de trabalho, com vistas a uma melhor atuação frente aos diferentes cenários vivenciados(2,5-6) por profissionais de saúde, gestores, população em geral e graduandos de enfermagem.

Neste sentido, a educação em saúde permite ao educador, no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), e particularmente, na atenção primária, ampliar a sua visão de mundo, instigando todos os atores a atuar de forma criativa e inovadora. Inovar em saúde é ter ideias, métodos ou objetos inéditos, ou até mesmo recriar algo de forma ímpar; é agregar valor gerando uma ação eficaz. Dada a diversidade de mudanças na era contemporânea, são exigidas novas formas de ensinar e de aprender, demandando sujeitos ativos, empreendedores que utilizem os recursos à sua disposição para tomar decisões na resolução de problemas(5). Neste sentido, os enfermeiros cumprem papel importante na educação em saúde, dadas as habilidades e competências desenvolvidas no decorrer do exercício profissional e na academia, ao (re)inventarem e (re)construírem o conhecimento de forma personalizada, estabelecendo um diálogo reflexivo com o paciente a fim de conscientizá-lo quanto à importância de sua participação ativa para transformar a sua saúde e, consequentemente, a sua vida, empoderando-o enquanto indivíduo, usuário(2) e cidadão.

Adicionalmente, a particularidade do envolvimento ético de profissionais de saúde, gestores e usuários da rede de atenção à saúde nas práticas educativas faz com que essa assistência atenda a um dos princípios fundamentais do SUS: a integralidade do cuidado(7). Por sua vez, a educação em saúde articula práticas e conteúdos científicos discutidos na academia e permite sua inserção nos serviços do SUS, por meio da formação de enfermeiros e dos profissionais que atendem à demanda por serviços de saúde. Portanto, a articulação ensino-serviço se vislumbra e traz o aprimoramento da assistência prestada aos usuários, na perspectiva de atender adequadamente suas necessidades, o que, por sua vez, estabelece o processo de capacitação e educação permanente do profissional de saúde, buscando-se consolidar a efetivação de um SUS(5,7) acolhedor, integrador, comprometido e socialmente justo.

Frente ao cenário epidemiológico e a gravidade do problema das doenças dengue, chikungunya e zika no Distrito Federal, e dada a facilidade de inserção e a expertise de uma instituição de ensino de graduação de enfermagem em se engajar na criação de novas estratégias para o enfrentamento destas enfermidades, e a necessidade de criação de novas experiências em educação em saúde sobre a questão, foi realizada uma proposta inovadora, que envolvesse diversos atores (alunos de enfermagem, docentes, gestores e profissionais de saúde) e cenários (escolas, hospitais, ambulatório, empresas). A questão que se coloca é se a educação em saúde sobre temas emergentes, quando abordada de maneira criativa e diferenciada, provoca o engajamento dos envolvidos na ação. A educação em saúde foi uma ferramenta motivadora para inovar as práticas educativas? Como despertar o pensamento crítico-reflexivo dos futuros profissionais de saúde e da população para um determinado problema? Ou seja, trata-se de um processo de raciocínio complexo, autodirigido e sistemático, que favorece a escolha das melhores condutas para solucionar problemas de enfermagem no contexto em que estão inseridos, permitindo ao profissional atuar a partir do ponto de vista cognitivo, experimental e intuitivo, respeitando os preceitos éticos da profissão(8).

OBJETIVOS

Relatar a experiência sobre a educação em saúde em relação ao Aedes aegypti no Distrito Federal.

MÉTODOS

Trata-se de um relato de experiência com abordagem descritiva. As ações de educação em saúde envolvendo o Aedes aegypti foram desenvolvidas em oito Regionais Administrativas do Distrito Federal, a saber: Águas Claras, Gama, Ceilândia, Itapoã, Setor Complementar de Indústria e Abastecimento, Taguatinga, Recanto das Emas e Brasília, entre 2016 e 2018. Esses locais foram selecionados por apresentarem maior incidência de dengue, chikungunya e zika, e também maior acesso às escolas e gestores dos serviços de saúde.

No período de atuação do projeto foram realizadas 24 ações educativas, sendo 14 em 2016, 8 em 2017, e 2 em 2018. Quanto aos diversos locais que participaram da experiência, em todas eles os responsáveis autorizaram o seu uso. Os locais incluíram universidade, centro de saúde, biblioteca universitária, centro de ensino e jardim de infância, centro de ensino privado, praça, ação global, vias públicas, comunidade urbana e rural, empresa de viação privada e órgão público de vigilância epidemiológica das regionais. Dentre os participantes das atividades, incluem-se cerca de 170 profissionais de saúde; 350 funcionários de uma empresa privada de viação; 300 pessoas de uma comunidade rural; 89 graduandos de enfermagem; 1.800 discentes universitários; 1.350 pessoas da comunidade escolar; 7.125 sujeitos das comunidades; 4.500 clientes de centros de saúde; 880 alunos do ensino fundamental; e 77 professores da educação infantil. Além disso, houve 1.602 visualizações do vídeo do projeto disponibilizado no YouTube, totalizando 18.243 pessoas envolvidas no projeto.

A montagem da escultura do Aedes aegypti para promover a educação em saúde

Para a realização das atividades educativas com foco na prevenção das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti foi confeccionada uma escultura anatômica gigante da fêmea do mosquito, com 2 metros de altura e 6 metros de comprimento, em uma escala de ampliação de 850:1. A escultura evidenciava os órgãos externos e internos, locais que o vírus percorre no vetor (labro, hipofaringe, antenas, olho compostos, glândula salivar, ductos internos, abdômen e aparelho ovopositor), detalhando do aparelho bucal ao reprodutor, com vistas a explicar o ciclo completo e os elementos determinantes da vida do vírus dentro do seu organismo.

A escultura foi desenvolvida em ferro, telas de aço e PVC, ao longo de sete meses. Após sua finalização, foi possível iniciar as ações com o objetivo de construir um viver mais saudável do indivíduo e do grupo social, incrementando práticas diferenciadas em saúde, relevantes cientificamente e viáveis economicamente(3).

Figura 1
Imagens da escultura anatômica do mosquito Aedes aegypti

A construção metodológica

A estratégia de educação em saúde contou com a exposição da escultura gigante do Aedes aegypti nos locais das palestras interativas, com demonstração do mosquito em seus diferentes estágios do ciclo de vida, apresentações de teatro, entrega de cartilhas, carreata/passeata, visitas domiciliares, personagens caracterizados de mosquito, esclarecimento de dúvidas, instruções de como extinguir os criadouros em potencial e a eliminação de criadouros. O passo seguinte foi a capacitação local e a motivação da equipe para o desenvolvimento do experimento. Nessa etapa, contou-se com os seguintes atores: professores, alunos de enfermagem, profissionais de saúde e gestores.

Capacitação do docente

Inicialmente, como justificativa do projeto, havia uma necessidade de ampliar a vigilância sobre a proliferação do Aedes aegypti e das doenças por ele transmitidas, na busca de incrementar as ações e incentivar os alunos de enfermagem a refletir sobre o problema, com vistas a otimizar estratégias para a implantação do tema nos serviços de saúde. Como referencial teórico, foram usados vários artigos científicos, recomendações do Ministério da Saúde, estudos entomológicos de anatomia e fisiologia do mosquito Aedes aegypti, seleção de fotomicrografias do mosquito para capacitar os agentes nos aspectos da estrutura anatômica tridimensional do vetor, além de levantamento das principais estruturas sensitivas e de movimento, relacionados ao calor visual e aos gases respiratórios - neste caso, com o apoio da consultoria da Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde do Distrito Federal. Nessa experiência, cinco professores do curso de Enfermagem da Universidade Católica de Brasília (UCB) participaram do treinamento.

Esses conteúdos e a forma de inserção de nova metodologia na construção da proposta contempla a educação permanente para o profissional educador, o que oportuniza novas perspectivas de educar e aprender(7). A busca de novas competências instiga a capacidade crítica e criadora dos sujeitos, permitindo ao profissional desenvolver novas perspectivas de trabalho em saúde no sentido de uma formação multidimensional, considerando o agir concreto e contextualizado para que sua práxis produza mudanças(6) e a formação de um ser holístico(3). Essa busca também auxilia na formação de um profissional que busque competências e habilidades para conviver com a diversidade, seja criativo no processo de intervenção e agregue valor ao cuidado frente aos avanços tecnológicos(9).

Sobretudo, enquanto educador universitário, se faz necessário primar pela preparação de profissionais de saúde comprometidos com as demandas sociais, capazes de refletir sobre a sua realidade social e desenvolver ações transformadoras, com o compromisso contínuo de aprimoramento do conhecimento(4), conforme as diretrizes curriculares de enfermagem.

Capacitação dos alunos da graduação

Participaram da capacitação 52 alunos de graduação do curso de Enfermagem da UCB. Estes alunos realizavam a disciplina obrigatória de estágio em saúde comunitária do sétimo semestre, e essa capacitação fazia parte do plano de ensino proposto no semestre regular da graduação. A capacitação dos discentes foi realizada em oito horas, com o objetivo de motivá-las quanto ao problema relacionado ao Aedes aegypti e ampliar o conhecimento sobre o tema, inclusive na construção e desenvolvimento de novas estratégias, além da produção científica e de material educativo. A metodologia incluiu leitura e roda de discussão; posteriormente, os componentes da proposta foram distribuídos a partir dos temas a serem abordados: doenças transmitidas pelo Aedes aegypti; sintomatologia clínica; exames laboratoriais; controle de criadouros dos vetores; diagnósticos diferenciais; tratamento; complicações (dengue hemorrágica, microcefalia, óbito, entre outras); ciclo do vírus no mosquito e no ser humano; os avanços na produção de vacinas contra a dengue; principais elementos ligados à manutenção dos criadouros,; visitas à Inspetoria de Saúde do Distrito Federal, a fim de motivá-los na diferenciação morfológica do Aedes aegypti, do culex e do Aedes albopictus; a realização das notificações compulsórias; a geolocalização do foco; bem como as ações preventivas e educativas desenvolvidas pelo setor nos principais focos do vetor.

Neste sentido, entende-se que os profissionais de saúde são agentes que desenvolvem ações educativas em saúde, visando promover condições de vida mais satisfatórias para os usuários, sendo o enfermeiro o profissional que frequentemente assume estas ações com a população. Portanto, o profissional enfermeiro deve se apropriar de diferentes abordagens, inclusive as problematizadoras, que instigam práticas inovadoras, transformadoras, e, assim, discernir sobre as melhores estratégias na organização do processo de trabalho em saúde, frente aos múltiplos determinantes sociais de saúde local(4).

Descrição da experiência da capacitação dos profissionais da saúde

Também foram capacitados 31 profissionais da saúde dos serviços do SUS pelo docente responsável do projeto. Esses profissionais de saúde foram capacitados mediante a participação nas ações, uma vez que foram os interlocutores das ações desenvolvidas nas palestras e discussões sobre o tema, exposições, observação das abordagens, orientações à comunidade e distribuição de material educativo. Da mesma forma, participaram da coleta dos exames diagnósticos, clínicos e laboratoriais, e na busca ativa de casos suspeitos de doenças e criadouros de mosquitos. Nesse caso, foi possível a articulação com outros órgãos da saúde, como a Vigilância Ambiental e a Vigilância Epidemiológica. Cabe ressaltar a importância do processo de trabalho multisetorial no contexto da dengue, onde a educação na saúde é determinante para que todos em sua área desenvolvam competências para a produção de assistência de melhor qualidade, ampliando a satisfação do usuário e dos profissionais, envolvendo vários grupos (governo, setor privado e sociedade civil) e setores (saúde, meio ambiente e econômicos) de partes interessadas, fortalecendo os vínculos e reduzindo a fragmentação de esforços para produzir melhores resultados de saúde(10).

Neste sentido, o profissional é capaz de ampliar sua capacidade resolutiva frente aos problemas identificados no cotidiano, reconhecendo que o saber é sempre provisório, devendo ser reconstruído constantemente, com vistas à integralidade da atenção à saúde(6). Sobretudo, torna-se ímpar a necessidade de o profissional atualizar continuamente seus conhecimentos técnicos-científicos para atuar de acordo com as necessidades identificadas, a partir de sua vivência e de suas experiências laborais(2).

Educação em saúde na escola

As ações desenvolvidas nas escolas foram programadas e planejadas antecipadamente em conjunto com a diretoria e coordenação local, por meio de contato prévio para se conhecer o espaço, o tempo disponível, a faixa etária e a quantidade de alunos. Posteriormente, realizou-se reunião com os graduandos de enfermagem para estruturação das ações para o público-alvo. As instituições eram responsáveis por introduzir o tema “de dengue, chikungunya e zika” com atividades didáticas em sala de aula e, em um segundo momento, a equipe de saúde colocava em prática as atividades planejadas para maior esclarecimento e fixação do conhecimento, por meio de palestras, personagens caracterizados, apresentações de teatro, dinâmicas de interação com o grupo, perguntas e respostas, entrega de material educativo, exposição da escultura e a visualização das fases evolutivas do mosquito em amostras reais.

Nesse caso, ao se trabalhar a educação em saúde com crianças, é possível valorizar os seus saberes e conhecimentos. Foi possível inserir os indivíduos no contexto social, ético e ideológico particular que é a sua realidade, permitindo a difusão e a reflexão de ideias entre eles, mostrando que não há idade para se educar e que a educação se estende pela vida(2).

Educação em saúde na comunidade

As ações na comunidade foram desenvolvidas considerando os aspectos específicos de cada localidade. Foram organizados eventos, onde a escultura do mosquito era exposta para captar a atenção do público-alvo, e onde também eram passadas instruções sobre os principais sinais e sintomas das doenças e como combater os criadouros domiciliares e peridomiciliares,. Nesses eventos, distribuíam-se cartilhas e panfletos sobre o tema, além de se expor as fases do ciclo de vida do mosquito, desde os ovos até os alados.

Em algumas situações eram realizadas visitas nas localidades de maior vulnerabilidade para a eliminação de criadouros, associadas a ações educativas com os moradores sobre a importância da ação individual e coletiva no combate à proliferação do Aedes aegypti e à redução das doenças por ele transmitidas. Essas atividades eram sempre desenvolvidas em conjunto com os profissionais locais de saúde e com a comunidade, visando a troca de experiência e a reconstrução de hábitos da população em questão.

Figura 2
Imagens das ações com a escultura anatômica do mosquito Aedes aegypti

Segundo autores, na enfermagem as práticas educativas constituem importante papel no trabalho em saúde, principalmente no contexto da atenção básica. O enfermeiro, historicamente, desenvolve um papel de educador na comunidade, estando presente com suas ações em diferentes espaços, como o próprio serviço de saúde, escolas, associações comunitárias e outros grupos sociais(3). Por isso, foi importante para os alunos de enfermagem vivenciar essa prática profissional, uma vez que ela pôde favorecer o protagonismo dos sujeitos envolvidos nas ações educativas, respeitando seu universo cultural e compreendendo que esses sujeitos são capazes de gerar mudanças individuais e coletivas a partir da construção compartilhada do conhecimento entre eles e os enfermeiros. Enfim, evidenciou-se, na prática da educação em saúde, que o profissional de saúde deve valorizar a realidade local, utilizar uma linguagem acessível ao público-alvo, atuar na desconstrução de conceitos e posturas dos indivíduos, planejar suas ações educativas estando sempre atualizado sobre determinado tema e analisar a efetividade do processo educativo desenvolvido, como proposto por Souza et al.(3).

Para tanto é necessário relacionar o senso comum/saber popular com o conhecimento científico, a partir da interação dos sujeitos envolvidos por um interesse comum, como elemento de transformação social. Considera-se que educar é uma ação ampla, que pressupõe uma atuação ativa do sujeito educado, reforçando a importância de se desenvolver uma prática de educação em saúde em conjunto com os sujeitos envolvidos, incorporando a valorização da troca de experiências e saberes entre os profissionais de saúde e a população(2), e oferecendo subsídios à incorporação de hábitos de saúde(3).

Educação em saúde na rede social e premiação do projeto

Ao despertar a curiosidade e atrair a atenção também dos usuários de redes sociais, o projeto foi divulgado em forma de vídeo por meio do Facebook, YouTube e WhatsApp.

No ano de 2016 houve um concurso da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), relativo às práticas de educação em saúde. O projeto, intitulado “Conhecimento sem ação, não acaba com o mosquito, não”, foi inscrito e, no dia 8 de novembro de 2016, foi premiado na modalidade nacional na categoria “Instituição de ensino superior privada”.

Limitação do estudo

As limitações referem-se à locomoção e manuseio da escultura do Aedes aegypti em alguns ambientes, dada a dimensão do protótipo; a falta de recursos para desenvolver e até mesmo para ampliar o projeto; a alta rotatividade de alunos, sendo necessário realizar capacitação antes da atuação no projeto; dificuldade de acesso a locais distantes; dependência da disponibilidade de voluntários para atuarem no projeto aos finais de semana; concorrência de tempo com outras atividades desenvolvidas durante o mesmo período letivo; e ausência de meios de se avaliar o quanto as ações desenvolvidas nas comunidades contribuíram para a redução da incidência das doenças.

Contribuições para a área da enfermagem

A educação em saúde é uma ferramenta que fortalece a atuação dos enfermeiros com a comunidade, tendo como foco tornar o indivíduo agente transformador de sua própria realidade. Além disso, estimula os profissionais de enfermagem para além da assistência, ao possibilitar a prática criativa de estratégias diferenciadas para a abordagem de temas novos e/ou corriqueiros, afim de estimular o interesse da comunidade em participar ativamente das ações de saúde para a melhoria da qualidade de vida. A educação em saúde também contribui para a formação do novo profissional de saúde, ampliando suas competências e habilidades para lidar com uma doença que está presente na comunidade. O reconhecimento e premiação dos profissionais de enfermagem nas ações desenvolvidas incrementam a dinâmica de sala de aula de maneira inovadora e, na visão dos órgãos de saúde, estimula o empenho na melhoria dos serviços prestados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As doenças dengue, zika e chikungunya, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, representam um problema de saúde pública no Distrito Federal que necessita de maior vigilância e conscientização da população quanto à importância do combate ao vetor. Neste contexto, a educação em saúde é essencial para incrementar as ações de enfermagem nos serviços de saúde e com a população. É importante destacar que a ação descrita contribuiu para melhorar a prática de ensino de enfermagem, desenvolvendo, nos futuros profissionais enfermeiros, habilidades e competências a partir de suas vivências, onde os conhecimentos adquiridos na prática são utilizados na resolução de problemas. A partir dessa estratégia, foi possível ampliar a formação de alunos e gestores de serviços com interface na área ambiental, ou seja, em uma interlocução com a intersetorialidade. As atividades desenvolvidas também serviram para motivar o próprio serviço de saúde a reconhecer a importância da capacitação continuada para a totalidade de profissionais. Também é importante frisar que as ações realizadas fortaleceram os vínculos multisetoriais.

REFERENCES

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Maria Saraiva

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Abr 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    09 Jun 2018
  • Aceito
    06 Abr 2019